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Dicas para quem vai começar a pesquisar as suas origens
Lea Beraldo, no site PEQUENO ROTEIRO PARA A PESQUISA dá importantes conselhos para quem deseja fazer uma pesquisa genealógica. Passo a palavra a ela:
Lembre-se de que em sua certidão de nascimento estão mencionados os nomes de seus quatro avós. Na de seus pais, também vêm indicados os avós deles. Por óbvio, tendo à mão a certidão de nascimento de seu pai, por exemplo, saberá de imediato o nome de seus bisavós. E se conseguir a certidão de nascimento de seu avô paterno, nascido no Brasil, terá o nome dos avós dele, seus trisavôs. Somente com esses documentos você já terá uma árvore genealógica considerável (cinco gerações contando você).
Procure conversar com os parentes mais idosos e anote tudo quanto puderem contar sobre a história da família. Não menospreze nenhuma informação ou reminiscência; tome todo e qualquer dado como provável indício, que somado a outros poderá montar o quebra-cabeça da origem.
Minha experiência pessoal diz que esta é a melhor fonte de pesquisa, principalmente nos livros de assentos de casamentos religiosos e batismos.
A explicação lógica vem dos seguintes fatos:
Grande parcela dos imigrantes era composta por casais jovens, com filhos pequenos e disposição para o aumento da prole, sobretudo porque, além da tendência natural à procriação em situações de isolamento, partiam do pressuposto de que quanto mais braços houvesse para o trabalho, mais fácil seria a sobrevivência da família. Guardavam, de outra sorte, uma forte religiosidade e bem por isso eram incapazes de mentir ao padre sobre a localidade em que batizados, no caso de declarações para o casamento dos jovens, ou mesmo para o batizado dos muitos filhos aqui nascidos. Lembre-se de que a Igreja Católica Apostólica Romana sempre impôs, como condição para a realização do casamento, o batismo prévio dos noivos, condição que se estende também para o batismo de seus filhos (só poderiam levar os filhos à pia batismal aqueles que fossem batizados).
Assim, os livros das Igrejas são, com certeza, uma excelente fonte de informação, ainda que os assentos venham a indicar apenas, por exemplo, que o noivo imigrante foi batizado no "Bispado de Verona". Tal informação já delimitaria a busca às noventa e seis cidades que compõem a Província de Verona, sem contar que se esse ancestral chegou ao Brasil com mais de dezoito anos seria fácil obter no "Ufficio Di Leva" da Província de Verona, por exemplo, o certificado de cumprimento ou dispensa do serviço militar, com todos os dados sobre sua origem.
Não se contente em obter uma certidão de casamento ou batizado. Peça uma cópia da folha do livro em que lançado o assento. Se impossível, peça para ver o livro. Graças a essa teimosia, na cópia da folha em que transcrito o batismo de uma tia avó, a primeira nascida no Brasil (em Rio Novo, MG), descobri que o verdadeiro sobrenome da família era Gaiardoni, e não Gagliardoni, como eu imaginava correto, muito menos Galhardoni, como ficou depois de lamentavelmente aportuguesado. Na cópia do assento vi, com meus próprios olhos, a assinaturinha trêmula de meu bisavô Vittorio, desenhada por mãos mais afeitas ao cabo de uma enxada do que a uma pena. Mas valeu muito a descoberta.
Caso o primeiro ancestral imigrante tenha falecido depois de 1942, também será possível obter, na Delegacia de Polícia da cidade onde estava residindo por essa época, uma cópia do termo de cadastramento que todos os estrangeiros foram chamados a fazer, e onde responderam a perguntas acerca da procedência, data de chegada ao Brasil, e nome do navio em que viajaram.
Em um desses documentos, preenchido por minha bisavó Albina Baccagini em Mogi Guaçu (SP), consegui descobrir que ela e meu bisavô Vittorio Gaiardoni haviam chegado no Navio Colombo em outubro/novembro de 1894.
Outra boa fonte de informações são as velhas Hospedarias de São Paulo e de Juiz de Fora (as de que tenho notícia), e o Arquivo Nacional.
A de São Paulo transformou-se no Memorial do Imigrante e guarda todos os livros de registro dos imigrantes que por lá passaram. Há casos em que à margem do registro de entrada da família anotaram-se a cidade italiana de origem e o destino da família aqui, com o nome do fazendeiro contratante.
A Hospedaria de Juiz de Fora (Horta Barbosa) não mais existe. Todos os livros de registro, no entanto, foram remetidos ao Arquivo Público Mineiro (Belo Horizonte), e neles é possível saber o destino da família em território mineiro.
J á o Arquivo Nacional (Rio de Janeiro) guarda as listagens de passageiros imigrantes desembarcados naquele porto, sem muitos detalhes mais elucidativos. De todo modo, sabendo a data de chegada do navio poder-se-á obter a listagem através de pedido feito por e-mail, carta ou telefone. É sempre bom saber quem viajou com a família pesquisada.
Tanto os livros de registro de chegada dos imigrantes conservados no Arquivo Nacional quanto aqueles do Memorial do Imigrante de São Paulo estão microfilmados pelos Mórmons. Basta ir a um Centro de História da Família (CHF) que funciona nessas igrejas e solicitar o microfilme do provável ano de desembarque. Com paciência, bastante tempo e vista boa será possível encontrar no microfilme a chegada da família, com os dados disponíveis, inclusive os nomes do navio e dos demais passageiros daquela viagem.
Não se pode deixar de mencionar que uma grande leva de imigrantes desembarcou no porto de Vitória, Espírito Santo, principalmente os que se engajaram na pioneira expedição Tabacchi. O Arquivo Público daquele Estado, em trabalho magnífico, está resgatando os dados disponíveis e colocando "on line " para a consulta.
Pouco sei sobre os imigrantes que se destinavam ao sul do Brasil, senão que via de regra desembarcavam no Rio de Janeiro e de lá seguiam para seus destinos em outras embarcações. Os Institutos Históricos do Paraná (IGEPAR) e do Rio Grande do Sul (INGERS) estão desenvolvendo trabalhos voltados para o resgate desses dados. Em minha página principal há vários endereços de outras páginas que tratam do tema.
Não se pode perder de vista ainda que a grande maioria de nossos ancestrais imigrantes, quer procedente da região do Vêneto, quer da Lombardia, ou ainda da Calábria, saiu de pequenas cidades ("Comuni"), e não das Capitais. Com o passaporte expedido pelo serviço de Anagrafe do Município, o imigrante rumava de trem para Gênova (se originário do norte da Itália), ou para Nápoles (se originário do sul). Somente de um desses dois portos partia-se da Itália para o Brasil, em viagem que dificilmente durava menos do que vinte e cinco dias. Um mesmo navio, portanto, chegava a fazer seis viagens por ano.
Sabendo-se, pelo menos, a região da Itália de onde veio o ancestral imigrante, é possível remeter cartas para os respectivos Arquivos de Estado daquela Região solicitando informações acerca de seu nascimento e de sua família.
Aqui é importante abrir parênteses para lembrar que a Itália está dividida, politicamente, em 20 REGIÕES, que por sua vez se dividem em 108 PROVÍNCIAS (semelhantes a nossos Estados), divididas estas em cidades, com estrutura parecida à de nossos Municípios, e que são denominadas "COMUNE" (singular) e "COMUNI" (plural); estas (em italiano "Comune" é masculino), em alguns casos, dividem-se ainda em "frazione", como nossos distritos.
As capitais das Províncias têm os mesmos nomes das Províncias, como São Paulo, que é a denominação do Estado, e também da cidade em que está sediada sua Capital.
Assim, a Região do Vêneto é composta por sete Províncias (Veneza, Verona, Padova, Vicenza, Belluno, Rovigo e Treviso), sendo que a (Província) de Verona abrange 96 cidades, entre as quais a de Verona, que é sua capital. A Província de Rovigo também está subdividida em 100 cidades, entre as quais a de Rovigo, e assim por diante.
Sabendo-se a Província de origem do imigrante, além da carta ao Arquivo de Estado, é recomendável remeterem-se outras para os serviços de Anágrafe de todas as cidades que compõem aquela Província, e também para as suas principais Paróquias, que via de regra guardam assentos de casamentos e batismos desde o século XVI, como é o caso da cidadezinha de Trecenta, em Rovigo, de onde vieram meus bisas Tamassia/Panciera, cuja Igreja matriz conserva os livros desde 1542.
Outro fato importante a ser lembrado é que os registros civis italianos são lavrados em repartições da Prefeitura de cada cidade ("Ufficio di Stato Civile" e "Ufficio Anagrafe"). A obrigatoriedade desses registros, instituída pelo "Regio Decreto" nº 2.062, de 15 de novembro de 1865, data de 1866. Caso o imigrante tenha nascido anteriormente (o que é muito provável), os respectivos dados só poderão ser conhecidos pela certidão de batismo na respectiva Paróquia, ou, no próprio Ufficio Anagrafe, através de dados obtidos em recenseamentos. De todo modo, o interessado sempre poderá obter no Anagrafe uma certidão chamada "Stato di Famiglia Storico", expedida com base nas fichas ("cartellini) que conservam os dados de todos os componentes do núcleo familiar. No "Comune" de Casaleone, por exemplo, obtivemos essa certidão relativa à família do avô de meu marido (Francesco Berardo). Nela constam os nomes de seus pais, com as respectivas datas de nascimento e morte, os nomes de suas irmãs, com as datas de nascimento, transferência para outras cidades e mortes, e curiosamente menciona o nome de Francesco com a data de seu nascimento no "Comune" de Angiari. O "Stato di Famiglia Storico", como se vê, é uma espécie de matrícula da família, onde são lançadas todas as intercorrências havidas com seus membros.
Em muitos dos serviços de Anagrafe também é possível localizar a cópia do passaporte expedido por ocasião da saída do imigrante da Itália (emigração). Nesse documento constam a data de embarque para o Brasil e a cidade de destino. Na pequenina cidade de Vigasio, Província de Verona, de onde vieram meus bisavós Gaiardoni/Baccagini, pude saber, através de cópias dos passaportes lá arquivadas, que uma irmã de meu bisavô (Angela Gaiardoni) havia emigrado para o Brasil em 1892 (dois anos antes do irmão) com o marido Paolo Caprara e cinco filhos.
Com essa informação, coloquei uma página na Internet buscando eventuais descendentes desse casal, e algum tempo depois recebi mensagem de três deles, novos parentes, que me fizeram conhecer uma enorme família, com ramificações em Espírito Santo do Pinhal, Franca, Ribeirão Preto, Casa Branca, Andradas, São Paulo e até em Ponta Grossa, Paraná, sem contar os residentes fora do Brasil. Os descendentes de Maria, filha de Angela Gaiardoni e Paolo Caprara (casada com Cristoforo Igino Archetti), entroncaram-se com centenas de famílias e deram aos habitantes de Franca, de presente, a belíssima Igreja de Nossa Senhora das Graças.
Neste ano de 2004, graças às pesquisas que um amigo italiano (Elio Bernini) fez no Comune di Trecenta, Rovigo, consegui descobrir que a família de minha avó Stella Tamassia passou também pela cidade de São José do Rio Pardo, Estado de São Paulo, onde, no dia 08 de maio de 1907, faleceu MARIA BORTOLINI, casada com PAOLO PANZIERA. Eram os avós de minha avó, e para minha surpresa esse trisavô PAOLO voltou em definitivo para a Itália em 1910 e lá se casou novamente, vindo a falecer somente em 1930.
Obter informações preciosas assim exigiu, repito, muito trabalho, muita perseverança, muitas madrugadas aqui na Net, além do inestimável concurso de bons e verdadeiros amigos.
Espero que este pequeno roteiro sirva de orientação aos iniciantes, principalmente aqueles que me dirigem mensagens solicitando (verbis ): "o envio da história de minha família e a certidão de nascimento de meu trisavô fulano de tal ". Ninguém além de você ou de algum parente seu conseguirá reescrever a história de sua família.
Boa sorte a todos! Lea Beraldo, São Paulo - Capital - dezembro/2003
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